Vigilância Exposta: O Risco das Câmeras Flock na Internet Aberta
Uma investigação alarmante revelou que dezenas de câmeras de vigilância com inteligência artificial da Flock Safety foram encontradas transmitindo imagens ao vivo diretamente para a internet, sem qualquer tipo de proteção. Essa vulnerabilidade expõe a privacidade de cidadãos em milhares de cidades nos Estados Unidos, onde esses dispositivos estão instalados, muitas vezes sem o conhecimento da população.
O incidente, que inicialmente parecia ser uma falha técnica isolada, rapidamente se transformou em um símbolo de preocupações mais profundas sobre a proliferação de sistemas de vigilância privada em espaços públicos, a supervisão corporativa e o delicado equilíbrio entre o combate ao crime e a proteção das liberdades civis. Estima-se que mais de 80.000 câmeras Flock, incluindo leitores automáticos de placas e unidades de vigilância com zoom, estejam em operação no país.
Flock Safety: Uma Rede de Vigilância em Expansão
Fundada em 2017, a Flock Safety se destaca na fabricação e operação de leitores automáticos de placas (ALPR), equipamentos de videovigilância e sensores de detecção de tiros. Seus produtos são comercializados para órgãos de segurança pública, associações de moradores, proprietários privados e municípios. A empresa afirma operar em mais de 5.000 comunidades em 49 estados, registrando bilhões de varreduras de veículos mensalmente.
Enquanto os ALPRs focam em identificar veículos, as câmeras Condor PTZ da Flock representam um avanço para a vigilância contínua de pessoas e locais. Essas unidades são capazes de rastrear automaticamente indivíduos e veículos, com zoom em rostos ou movimentos em áreas públicas como estacionamentos, ciclovias e playgrounds. Diferente de câmeras estáticas, as Condor podem ser controladas manualmente ou configuradas com IA para seguir movimentos e focar em alvos de interesse, o que gera críticas de defensores da privacidade sobre um aparato de vigilância invasivo e com pouca supervisão pública.
A Exposição: Câmeras Acessíveis a Qualquer Um
A investigação, conduzida pela 404 Media e corroborada por outros especialistas, descobriu que pelo menos 60 câmeras Condor da Flock estavam publicamente acessíveis na internet sem autenticação. Isso permitia que qualquer pessoa com um navegador moderno e conhecimento técnico básico visualizasse imagens ao vivo, acessasse vídeos arquivados de até 30 dias e, em alguns casos, controlasse funções administrativas. Em um exemplo chocante, um repórter foi capaz de se ver em tempo real em uma câmera de Bakersfield, Califórnia, sem a necessidade de senha.
As imagens expostas mostravam pessoas em situações cotidianas: passeando com cães em ciclovias, frequentando estacionamentos, crianças em parquinhos e até mesmo indivíduos em áreas de lazer. Nenhuma das transmissões ao vivo era criptografada, e nenhum login era exigido. A preocupação aumenta com a possibilidade de acesso aos painéis de controle de algumas câmeras, que permitiam alterar configurações, visualizar logs e baixar meses de filmagens, tudo sem qualquer restrição.
O Que a Flock Safety Diz e Preocupações Adicionais
Em resposta, a Flock Safety classificou o incidente como uma “configuração incorreta limitada” afetando um pequeno número de dispositivos, e afirmou que o problema já foi corrigido. A empresa negou que tenha havido um ataque hacker e que sua infraestrutura de nuvem foi comprometida, mas se recusou a fornecer detalhes técnicos ou o número exato de câmeras afetadas. Críticos questionam a falta de transparência e a vaguidão da explicação, sugerindo falhas sistêmicas na segurança e supervisão.
Este não é o único ponto de controvérsia envolvendo a Flock Safety. Investigações parlamentares apuram o uso de seus sistemas de ALPR por autoridades para rastrear mulheres que buscaram aborto em outros estados e para operações de imigração não autorizadas. Além disso, no Texas, a empresa enfrentou uma investigação por operar câmeras sem a licença privada de segurança exigida, levantando questões sobre conformidade regulatória. Relatórios anteriores também indicaram o uso de trabalhadores estrangeiros para revisar e classificar imagens de vigilância para treinamento de IA, gerando dúvidas sobre o acesso a dados sensíveis.
Diante da exposição, organizações de direitos civis, tecnólogos e legisladores exigem maior fiscalização, auditorias de segurança independentes, requisitos de relatórios públicos e marcos legais mais claros para tecnologias de vigilância. O objetivo é garantir que esses sistemas sejam seguros, transparentes e respeitem os direitos de privacidade, enquanto a sociedade debate o futuro da vigilância na era digital.
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