Um Novo Começo para o Homem de Aço
Superman, a mais recente reinvenção do icônico herói nos cinemas, não apenas trouxe a visão de James Gunn para o Universo DC (DCU), mas também uma explosão de cores vibrantes e um tom inegavelmente fiel aos quadrinhos. Com uma recepção majoritariamente positiva, o filme conquistou 90% de aprovação do público no Rotten Tomatoes e gerou impressionantes US$ 150 milhões em lucro para a Warner Bros. Discovery (WBD), conforme reportado pela Forbes. No entanto, o sucesso financeiro não o livrou de intensos debates online, evidenciando a complexa jornada que o longa enfrentou desde sua concepção.
O Peso da Transição e a Batalha por Fãs
James Gunn e o protagonista David Corenswet não tinham a tarefa de apenas apresentar uma nova versão do Superman. Gunn, em particular, embarcou em uma nova empreitada ao assumir o cargo de Co-CEO do DC Studios, deixando para trás o universo Marvel. Superman tornou-se, assim, um teste de conceito para toda essa nova fase profissional. A expectativa era clara: seria possível atrair fãs fatigados do MCU, ou mesmo aqueles descontentes com Gunn, para o novo DCU? A missão se estendia além disso, pois o filme precisava se desvincular da estética e do tom mais sombrio e violento do Superman apresentado na era DCEU sob a direção de Zack Snyder. Essa mudança drástica de abordagem, aliada às bases de fãs fervorosamente protetoras de cada versão, preparou o terreno para um debate inevitável.
O Palco Político e a Interpretação do Símbolo
O lançamento de Superman coincidiu com um cenário político polarizado, e o lema do herói, “verdade, justiça e o modo americano”, o colocou sob um microscópio, sujeito a interpretações políticas. A própria imprensa em torno do filme, com declarações de Gunn à Deadline sobre a obra abordar “a história da América… um imigrante que veio de outros lugares e povoou o país… mas é, acima de tudo, uma história que diz que a bondade humana básica é um valor e algo que perdemos”, adicionou lenha à fogueira. Esses comentários, por mais bem-intencionados que fossem, intensificaram a controvérsia, somando-se aos debates Snyder vs. Gunn e DC vs. Marvel. A alegoria do Superman como imigrante, em tempos atuais, jogou o filme em um turbilhão de discussões online. A instabilidade na WBD, com ofertas de fusão de grandes empresas, reacendeu incertezas sobre o futuro do DCU, com o próprio Gunn admitindo em um canal do YouTube que a continuidade de seus planos dependia de “muitas coisas na vida”.
Superman: Uma “Barbie para Garotos” na Desconstrução da Masculinidade?
Se a política e a defesa do “Snyderverse” não fossem suficientes, a abordagem mais suave à masculinidade em Superman se tornou um ponto de discórdia por si só. Assim como Barbie, de Greta Gerwig, desconstruiu a feminilidade em 2023, Gunn propôs uma reflexão sobre o herói masculino. O Clark Kent de Corenswet não hesitou em chorar e demonstrar vulnerabilidade, e o clímax do filme apresentou um monólogo compassivo que subverte dinâmicas de poder. Enquanto alguns viram isso como uma evolução necessária do personagem, outros interpretaram como uma “emasculação” e um exemplo de Hollywood “suavizando” seus heróis. A discussão sobre a masculinidade no filme se tornou particularmente acalorada, unindo a ruptura com o tom de Snyder e uma aparente aversão ao machismo. A insistência de Gunn na “bondade humana básica” e seu reconhecimento da “mesquinhez que surgiu devido a figuras culturais sendo mesquinhas online” posicionaram Superman como um contraponto direto à toxicidade masculina moderna. A comparação com Barbie, aliás, não foi totalmente infundada: ambos utilizaram propriedades intelectuais amadas para interrogar expectativas de gênero, empregaram paletas de cores vibrantes e chamativas, e pareceram projetados tanto para gerar conversa quanto para entreter.
![]()
